quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Á beirada da janela

Um olhar triste e vazio sobre a beirada da janela, uma repetitiva imagem pálida, sem brilho, era o prazer que a sua cansada e deficiente visão lhe permitia todos os dias, nesse momento, com a sua alma nostálgica dos reflexos de outrora, começou lentamente conforme lhe era permitido, a sua viagem pelo passado, recordando com a sua já fragmentada memoria diversas passagens de sua vida, ligando-as entre si com aquilo que ainda restava da sua decadente imaginação, foram poucos os minutos que se passaram mas os mais importantes do seu longo e enfadonho dia.
Por esses escassos instantes reencontrou-se com a sua forte personalidade perdida, com a sua então jovem imagem charmosa e galanteadora, com a sua irreverente forma de dialogar que tanto alimentava o seu egocentrismo, mas subitamente e de forma rápida, voltou a realidade temporal que o rodeava, alguém chamara duplicadamente o seu nome, “sim”; respondeu ele, era sua mulher e companheira de armas, que durante mais de cinco décadas permaneceu em seu redor, como o mais fiel dos satélites ao seu planeta, num tom admirado, devido ao seu largo silencio perguntou, – “que estas pr´ai a pensar tão calado homem”.
-“Nada… nada”, respondeu ele como quem esconde um segredo, com o seu ar maroto e esboçando um sorriso malandro.
No seu pensamento transportava toda uma vida que não voltaria a viver, mas vezes sem conta iria necessitar de recordar...
Para dessa forma poder Colorir mais um triste e repetido olhar pela beirada da janela.