sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Artur Távola Contradição....

Uma das contradições da paixão exprime-se pelo fato de ser a ausência iluminada com a presença forte, farta e redentora do ser amado no imaginário, sucedida por insuportáveis necessidades de convivência e troca profunda de verdades.
Tudo o que a ausência faz relembrar, ou invocar o ser amado ou ter vontade de contar-lhe e comentar cada acontecimento trivial, impregnando de amor cada ato, gesto ou realização, portanto tornando a vida soprada por mágica virtude e alegria interior, tudo isso, que é imenso, maravilhoso e efusivo, mágico, faz-se dor, necessidade, angústia, perda, em segundos, se constatada, ali, a necessidade de ter o amado ao lado. Amor intenso exige o testemunho.
No amar intenso e agudo, é súbita e imediata a passagem do estado de graça amorosa, benfazejo, para o de desgraça motivado pala certeza de que o fluxo de generosidade, bondade interior, iluminação passional, por não ser utilizado no momento em que vem à tona, desperdiçado será.
É contemplar o melhor das energias próprias e alheia gasto sem troca renovadora, sem doação eficaz e sem retorna gratificante.
O estado de amar intenso, quando mútuo, ensina a alternativa.
O máximo de energia vivificante pela certeza de amar e ser e saber-se amado/a, momento de graça, de inspiração divina (pois pelo verdadeiro amor humano também o amor de Deus se manifesta), seguido pela sombra da perda, expressa na não-presença já que onde há imaginário não há ausência no sentido total do termo. Ausência é perda, impossibilidade.
Não-presença é possibilidade adiada, por isso dolorosa mas sem desgraça.
É uma forma de graça expressa por vontade, esperança, possibilidade e a enorme vocação de sentir o melhor de si mesmo pulsar internamente por intermédio da evocação da lembrança do ser amado.
A natureza desse processo é idêntica a de amar a Deus.
Da rara, efetiva e incomensurável da presença do mistério (a Graça) na vida. Não é ente de razão.
É sentimento, percepção, experiência pessoal e intransferível.
Uma revelação!
É graça no sentido de ser um ato gratuito, sem explicação, causa, definição ou finalidade.