Entre um gole e outro do copo amarelo
Ele levanta os olhos marejados e embaçados
Parece procurar algo... algo que não está mais lá
Sua mente distante rodopia em velocidade frenética
Voando e dando saltos explosivos
Um misto embolado de euforia e repúdio
Que hora corta sua carne
Hora enaltece sua esperança
Ele mesmo censura firmemente a auto-censura
Para logo depois pedir mais uma dose
Ele quer esquecer... Esquecer que tem sempre algo para lembrar
E que a lembrança é quase sempre perigosa
Pensamentos cortantes como facas
Promessas esperançosas de um ontem perdido
Dissolvido na realidade ácida do presente
Um grito: NÃO!
Ele não quer mais saber seu nome
Seu endereço, seu destino...Diz que agora a vida vai fazer mais sentido assim...
Como um clipe filmado por um câmera bêbado
Como uma história inacabada de um autor lunático
Como trechos de uma partitura voando ao vento...
O mundo é seu... é seu o mundo...Sentindo a potência de seus pensamentos
Levanta, dá um passo, cambaleia e cai...
Recompõem-se, senta novamente
Por um instante ainda lembra do que tinha que esquecer
Logo depois esquece do que tinha que lembrar
Olha o copo amarelo em sua frente
Onipresente...Onipotente...
Bebendo tudo num só gole
Desiste por fim de pensar
Paulo Ricardo Zilio Abdala
Janeiro de 2005