domingo, 11 de novembro de 2007

O Copo


Entre um gole e outro do copo amarelo

Ele levanta os olhos marejados e embaçados

Parece procurar algo... algo que não está mais lá

Sua mente distante rodopia em velocidade frenética

Voando e dando saltos explosivos

Um misto embolado de euforia e repúdio

Que hora corta sua carne

Hora enaltece sua esperança

Ele mesmo censura firmemente a auto-censura

Para logo depois pedir mais uma dose

Ele quer esquecer... Esquecer que tem sempre algo para lembrar

E que a lembrança é quase sempre perigosa

Pensamentos cortantes como facas

Promessas esperançosas de um ontem perdido

Dissolvido na realidade ácida do presente

Um grito: NÃO!

Ele não quer mais saber seu nome

Seu endereço, seu destino...Diz que agora a vida vai fazer mais sentido assim...

Como um clipe filmado por um câmera bêbado

Como uma história inacabada de um autor lunático

Como trechos de uma partitura voando ao vento...

O mundo é seu... é seu o mundo...Sentindo a potência de seus pensamentos

Levanta, dá um passo, cambaleia e cai...

Recompõem-se, senta novamente

Por um instante ainda lembra do que tinha que esquecer

Logo depois esquece do que tinha que lembrar

Olha o copo amarelo em sua frente

Onipresente...Onipotente...

Bebendo tudo num só gole

Desiste por fim de pensar

Paulo Ricardo Zilio Abdala

Janeiro de 2005