domingo, 11 de novembro de 2007

Nós, ciganos, temos uma só religião: a da .........


Nós, ciganos, temos uma só religião:

a da liberdade. Em troca desta renunciamos à riqueza, ao poder, à ciência e à glória. Vivemos cada dia como se fosse o último.

Quando se morre, deixa-se tudo: um miserável carroção como um grande império.

E nós cremos que nesse momento é muito melhor ser cigano do que rei.

Nós não pensamos na morte.

Não a tememos – - eis tudo.

O nosso segredo está no gozar em cada dia as pequenas coisas que a vida nos oferece e que os outros homens não sabem apre- ciar: uma manhã de sol, um banho na torrente, o contemplar de alguém que se ama.

É difícil compreender estas coisas, eu sei.

Nasce-se cigano.

Agrada-nos caminhar sob as estrelas.

Contam-se estranhas histórias sobre os ciganos.

Diz-se que lemos nas estrelas e que possuímos o filtro do amor.

As pessoas não acreditam nas coisas que não sabem explicar-se.

Nós, pelo contrário, não procuramos explicar as coisas em que acreditamos.

A nossa vida é uma vida simples, primitiva, basta-nos ter por tecto o céu, um fogo para nos aquecer e as nossas canções quando estamos tristes.

Vittorio Mayer Pasqualle Spatzo(Poeta cigano),

in Raiz e Utopia , nº 3.4 , 1977